quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Em algum lugar, meu Dragão espera

Dragões são míticos e místicos. Eles representam os 4 elementos em um só ser e são a personificação do poder e da sabedoria.
Um Dragão pode ser mau, apavorando vilas, destruindo cidades e populações, até que um valente guerreiro o derrote em sangrenta batalha. Há uma metáfora nisso: Cada um de nós possui "dragões maus" dentro de si. Dragões que precisam ser mortos em batalha espiritual. Travam-se batalhas na consciência o tempo todo até que os dragões maus sejam sobrepujados.
Mas também existem Dragões bons, como alguns presentes na literatura e em jogos. A estes seres, devemos nos unir, lutar conjuntamente por uma causa. E a metáfora ainda está presente: Dragões do bem aparecem em nossas vidas das mais diversas formas, como uma força superior que nos joga a perseguir nossos objetivos.
Dragões assim como elementais, existem para quem acredita na sua existência. Muito provavelmente, na Idade Média, as pessoas acreditavam piamente em sua existência, o que levava à sua materialização (de que outra forma ouviríamos falar tanto neles?). Com o passar dos anos, a mente humana sofreu modificações, tornando-se primordialmente racional (será mesmo?), acreditando assim somente em coisas pré visualizadas, suprimindo deste modo a imaginação e adotando uma fé seletiva no abstrato (muitos acreditam em Deus (es), mas acham a ideia de fadas existirem um absurdo, por exemplo). Deste modo, Dragões, Fadas, Gnomos, deixam que saltar aos olhos neste plano, preferindo habitar somente o inalcançável aos olhos humanos, povoando a mente de sonhadores.
Existe uma série de livros escrita por Christopher Paolini, chamada "Ciclo da Herança" que conta a história dos Cavaleiros de Dragões. Os Cavaleiros são pessoas (ou elfos) afortunadas, a quem seu Dragão os escolhe ainda no ovo. A ligação entre eles é tão poderosa que proporciona entre outras coisas, o poder da telepatia. Juntos, eles enfrentam o mau (como na metáfora onde nos juntamos aos "dragões bons" em busca de um objetivo). Pessoas sonhadoras que têm a capacidade de acreditar naquilo que não se materializa normalmente aos meros mortais, acreditam que a existência dos dragões está além das metáforas. Sonham, em um mundo melhor ou em outro plano, encontrar seu Dragão.


Fonte da Imagem: The Elder Scrolls V - Skyrim

domingo, 30 de agosto de 2015

Resenhando "A Queda de Artur"

TOLKIEN, J.R.R. A Queda de Artur; Organizado por Christopher Tolkien. São Paulo, SP: Editora WMF Martins Fontes, 2013. 286 p. ISBN 9788578277406

Editado por Christopher, filho do Mestre Tolkien, o livro "A Queda de Arthur" é composto de um poema aliterante inacabado sobre o Rei Artur escrito por J.R.R. Tolkien e muitas considerações escritas por Christopher Tolkien. Pode-se considerar que Christopher escreveu a maior parte do livro, visto que o poema em si ocupa por volta de 80 páginas (de 286) divididas entre o poema original em inglês e sua tradução em português, na edição brasileira.
Para a apreciação do poema ser satisfatória, há de se ter conhecimento prévio sobre a lenda do Rei Artur. Para apreciar-se o livro como um todo, há de se ser fã de Tolkien ou ao menos, curioso sobre seu legado. Christopher explana acerca do poema de seu pai, falando sobre os autores que o influenciaram, rascunhos encontrados com ideias que viriam a ser parte do poema, a relação do mesmo com outras obras do autor, e muito especula sobre o que o pai dele iria escrever, ou os motivos que o levaram a pensar de determinada maneira. As explicações de Christopher são válidas, principalmente as passagens onde transcreveu alguns versos rabiscados de seu pai encontrados em um caderno, que viriam a compor o poema se o mesmo tivesse sido terminado, porém, ele delongou-se demasiadamente, tornando a leitura muitas vezes maçante com repetições do poema desnecessárias e muitas explicações que são meras conjecturas que denotam uma busca incessante por desvendar o restante do poema e compreender a mente de Tolkien em sua totalidade.
Apesar dos pesares, muito se aprende sobre a lenda do Rei Artur e sobre a obra e vida de Tolkien, afinal, seu filho publica alguns fatos curiosos que percebe-se serem verdadeiros, e acaba-se concordando com Christopher em muitas de suas conjecturas sobre "A Queda de Artur". Mesmo não concordando totalmente com a forma com que esta obra especificamente foi conduzida, quem é fã de Tolkien deve sentir-se feliz com a sua publicação, bem como outras publicações póstumas do autor que Christopher, na condição de detentor do legado de seu pai, vem concebendo.
Sobre o poema em si, mesmo não estando habituado a esse tipo de literatura e preferir outras obras do autor (como é o caso dessa que vos escreve), o leitor pode satisfazer-se com a leitura, que trata-se de um poema bastante bonito e enriquecedor, pois traz a história de uma das maiores lendas (ou seria verdade?) mundialmente conhecidas. Avalon bem como Morgana, poderiam ser mais presentes, é verdade, mas há de se ter consciência de que como trata-se de uma história passada há muitas gerações, cada autor a conta da forma que mais lhe apetece, e nem tudo que poderia ter sido escrito no poema de Tolkien foi colocado em papel. Provavelmente ele ainda tinha ideias na cabeça que não devem constar nos rascunhos ou não foram encontradas, quiçá nem ele mesmo sabia o rumo que a obra tomaria. Infelizmente nunca se saberá pois ele abandonou seu poema, para, felizmente, concluir outras obras importantíssimas para a literatura mundial.


[Resenha participando do "Desafio Literário Skoob 2015". Agosto: Folclore e Mitologia]

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Infeliz Por Nada

Angústia
Que não se sabe porquê habita
Solidão
Mesmo com todos em volta
Trancado no fundo da alma
Sensação de algo fora do lugar
Medo do desconhecido
Sentimentos confusos
Tempo desperdiçado
A não entrega
Presenciar fatos como alguém de fora
Onde está o sentido?
O que fazer dali por diante?
Reprogramados para ser escravos?
Querer fazer algo grandioso
Sem saber por onde começar
Trilhar o caminho difícil
Para terminar em um desfiladeiro
Palavras desconexas
Despejadas no papel
Aleatoriamente
Sentimentos
Pensamentos
Pensar demais dói
Dói a alma.
Dói o ser.

domingo, 12 de julho de 2015

Resenhando "Sementes no Gelo"

VIANCO, André. Sementes no Gelo. Osasco, SP: Novo Século Editora, 2011. 190 p. ISBN 9788588916098

O roteiro de "Sementes no Gelo" desenvolve-se em Osasco, cenário onde já ocorreram outros romances de André Vianco, mestre do suspense fantástico contemporâneo nacional. Nesta narrativa curta, o autor explora uma questão há muito discutida entre pessoas espiritualizadas e cientistas: Embriões fecundados em laboratório e posteriormente congelados possuem alma? Assumindo que sim, Vianco cria um cenário onde essas almas, aprisionadas em um estado entre o mundo espiritual e o mundo em que vivemos, impossibilitadas de reencarnar e cumprirem suas missões, revoltam-se contra os vivos que elas julgam serem responsáveis por suas condições, causando pânico em alguns e comoção em outros.
O livro inicia-se quando um assassino e estuprador de crianças é morto em circunstâncias misteriosas em uma delegacia após ser preso. O policial responsável vê crianças entrando no local minutos antes, crianças capazes de atravessar grades. Neste ínterim, Tânio Esperança, detetive particular, recebe um chamado de ajuda de sua velha amiga Lizete que alega estar sendo visitada pelo fantasma de uma criança. Outros casos semelhantes passam a acontecer na cidade, e Tânio, ao desvendar a origem dos fantasmas passa a ser considerado seu inimigo principal e a correr risco de vida.
A leitura é realizada vorazmente, pois além do fato do livro ser curto, os acontecimentos vêm rapidamente, resolvendo-se as coisas sem a tradicional embromação, artifício utilizado por muitos autores. Destaca-se a menção à acontecimentos ocorridos em "Os Sete", livro do mesmo autor e a introdução de Padre Alberto Cantor na história, personagem também presente em "Os Sete", fatos que certamente deixaram os fãs da obra de Vianco levemente eufóricos por alguns segundos ao ler "Sementes no Gelo", mesmo sabendo que é comum o autor utilizar deste artifício de ligação entre seus livros.
Alguns fatos que ocorrem até o final do livro deixam o leitor surpreendido, como uma ligação mais profunda entre o personagem principal, Tânio e as almas atormentadas. Mesmo sendo uma leitura fácil, deve-se estar atento para alguns detalhes que ficam subentendidos, a fim de "ligar todas as pontas soltas" da história. Ao final da leitura, o maior efeito que a mesma causa é a reflexão acerca de reproduções in vitro. Até que ponto o ser humano pode utilizar da ciência para o bem da humanidade correndo o risco de desequilibrar a ordem natural das coisas? Ou será que temos esse direito justamente pelo fato de Deus ter concedido ao homem inteligência para tal e tudo é parte de um plano maior?

[Resenha participando do "Desafio Literário Skoob 2015". Julho: Inverno/Frio]

sábado, 20 de junho de 2015

Resenhando "O Morro dos Ventos Uivantes"

BRONTË, Emily. O Morro dos Ventos Uivantes. São Paulo, SP: Editora Landmark, 2007. 300 p. ISBN 9788588781344

Publicado em 1847 sob um pseudônimo masculino (Ellis Bell), "O morro dos ventos uivantes" foi o único romance escrito por Emily Brontë e é considerado um dos maiores clássicos da literatura inglesa.
A narrativa, em terceira pessoa, centra-se nos habitantes do Morro dos Ventos Uivantes, lugarejo afastado da agitação da cidade, em Gimmerton, na Inglaterra, que no início da história pela ordem cronológica, pertencia  aos Earnshaw. Certa vez, o patriarca da família chega em casa trazendo um menino de origem desconhecida, de idade próxima à de seus filhos, Hindley e Catherine, e denomina o menino como Heathcliff. Hindley não gosta de Heathcliff por sentir que seu pai é demasiado afeiçoado ao forasteiro, mas Catherine desenvolve um forte afeto pelo estranho menino, o qual é correspondido e perdura durante todas as suas vidas. Quando o Senhor e a Senhora Earnshaw morrem e Hindley assume o comando da casa, passa a maltratar Heathcliff e tratá-lo como um criado, o que desencadeia fortes ressentimentos no rapaz.
Catherine e Heathcliff crescem como um espelho de personalidade um do outro, e apesar de amá-lo e a recíproca ser verdadeira, Catherine resolve casar-se com Edgar Linton, filho do proprietário da Granja Thrushcross, pelo fato deste ser fino e possuir grande poder aquisitivo. Heathcliff deixa o Morro dos Ventos Uivantes e quando retorna anos depois, está rico e com a alma obscura, querendo vingança, o que o leva a casar-se com a irmã de Edgar Linton, Isabella.
A narrativa estende-se após a morte de Catherine por quase 20 anos, chegando as histórias dos filhos das personagens do início, com muitas reviravoltas.
Heathcliff passa de injustiçado à vilão ao decorrer do livro, fazendo-se odiar, principalmente pela forma com que lida com Hareton Earnshaw, filho de Hindley, personagem que como a grande maioria, não simpatiza-se no início, mas conforme seu crescimento, desperta a compreensão e a empatia do leitor. A maioria das personagens é detestável, uns por serem maus em seu íntimo, outros por serem demasiado mimados (entre estes, destaca-se Linton Heathcliff, filho de Heathcliff e Isabella), e mesmo sem ter apego por nenhum deles até quase o final da leitura, o apego pelo livro em si aumenta a cada página. A história é muito bem desenvolvida e tem todas suas pontas amarradas com genialidade.
Uma história de amor amaldiçoado como nenhuma outra, criticada fortemente na época de seu lançamento, e genuinamente, uma obra-prima. Após seu término, o livro deixa o leitor órfão e arrependido de ter lido rapidamente, impossibilitando que o mesmo consiga afastar-se dos cenários criados em sua mente por vários dias. Talvez, se Emily Brontë não tivesse partido tão cedo deste plano, teria brindado a literatura com mais deleites como este. Talvez, nenhum livro que ela por ventura tivesse escrito chegaria aos pés de "O Morro dos Ventos Uivantes", não há como saber. O que importa, é que o legado que ela deixou na forma de um livro apenas já é o suficiente, e somente o lendo é que entende-se sua importância para a literatura mundial, e o porquê de ser uma leitura cultuada até os dias de hoje, com potencial para perdurar enquanto o mundo perdure.

[Resenha participando do "Desafio Literário Skoob 2015". Junho: Casais]

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Resenhando "Olhai os Lírios do Campo"

VERISSIMO, Erico. Olhai os Lírios do Campo. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2005. 286 p. ISBN 9788535906097


"Olhai os Lírios do Campo", publicado em 1938, foi o romance responsável por alavancar a carreira de Erico Verissimo como escritor. Traduzido em diversas línguas, suas tiragens esgotaram-se rapidamente e é até hoje um dos livros mais vendidos do autor.
Qualquer obra com o nome de Verissimo estampado na capa é uma promessa de leitura envolvente e instigadora ao pensamento, e esta vem até o leitor com esse exato intuito. 
A narrativa, dividida em duas partes, centra-se na vida de Eugênio Fontes, contando sobre sua infância pobre, sua ascensão depois de formado médico em meio à alta sociedade e sua evolução como ser humano. Durante a primeira parte, o autor apresenta Eugênio já casado (e frustrado) com Eunice Cintra, mulher rica com quem casou-se por interesse, e em meio ao desespero por saber que Olívia, mulher que ama verdadeiramente está a beira da morte. A vida de Eugênio, desde sua infância é narrada em suas memórias, na viagem de carro de sua propriedade rural até o hospital onde Olívia vive seus últimos momentos. O leitor depara-se com a infância pobre do protagonista, e vê o seu orgulho levá-lo a sonhar alto, estudar medicina para ser uma pessoa importante com alto poder aquisitivo. Na faculdade, ele conhece Olívia, personagem que confirma a força das personagens femininas de Veríssimo. Olívia é responsável pelos poucos momentos de felicidades de Eugênio, no início de suas carreiras como médicos, o apoiando em seus problemas e mantendo um relacionamento amoroso não definido, até Eugênio conhecer Eunice e deixar Olívia para trás, por pura ambição e egoísmo.
Na segunda parte do livro, Eugênio já demonstra como um ser humano, seja ele fictício ou não, pode amadurecer ao longo de sua vida, e grandes acontecimentos o fazem olhar para o mundo de uma maneira diferente, mas não só os grandes acontecimentos detém esse poder, como também os pequenos detalhes, como cartas lidas postumamente. Eugênio descobre aos poucos sua missão e as dificuldades que enfrentará para ser a pessoa que ele é no seu íntimo.
É fácil aos sonhadores angustiados identificar-se com Eugênio ao final da narrativa, um personagem extremamente humano e cheio de sentimentos. Muitas histórias individuas de outras personagens são narradas no decorrer da obra, o que leva o leitor a refletir ainda mais acerca de sua própria vida enquanto lê as tragédias ficcionais que podem ocorrer na realidade com qualquer pessoa no mundo.
Além de comover e até fazer rir, o autor emite diversas críticas, principalmente utilizando-se do núcleo constituído pelo círculo social dos Cintra, onde Eugênio sente-se perdido em meio à futilidade, preconceito e ideais distorcidos.
Um livro acima de tudo visceral com poder de mudar a vida de seus leitores, ou pelo menos fazê-los ter vontade de parar para olhar os lírios do campo e os pássaros do céu...

[Resenha participando do "Desafio Literário Skoob 2015". Maio: Língua Mãe]

terça-feira, 28 de abril de 2015

Resenhando "O Primo Basílio"

QUEIRÓS, Eça. O Primo Basílio. São Paulo, SP: Ciranda Cultural, 2008, - (Coleção clássicos da literatura). 383 p. ISBN 978-85-380-0347-2

Escrito em 1878, "O Primo Basílio" é, além de um clássico, uma crítica à sociedade burguesa de Lisboa do século XIX. Eça de Queirós apresenta diversos personagens peculiares durante a narrativa, cada qual com suas preocupações e trejeitos que os fazem únicos.
A história se concentra com torno de Luísa, uma jovem casada com o engenheiro Jorge que vive em sua confortável casa com duas criadas a lhe fazerem praticamente tudo e recebendo visitas de seu núcleo social. Suas vidas seguiam muito tranquilamente até Jorge se ausentar à trabalho durante um longo período de tempo, e neste ínterim, volta a Lisboa um antigo amor de Luísa, seu primo Basílio, com quem esteve prestes a casar antes de o mesmo ir embora para o Brasil. Com a chegada de Basílio, Luísa sente aquela paixão reacender e cede aos encantos do sedutor primo. O que Luísa inocentemente não sabia, era da raiva e da ambição que cultivava Juliana, uma das criadas, que ao conseguir provas da traição de sua senhora, passa a chantageá-la.
No desenrolar da narrativa, o leitor passa a conhecer melhor e entender cada personagem secundário do núcleo social  que cerca Luísa. Sebastião, amigo mais estimado de Jorge quer apenas manter a boa imagem de seus amigos perante à vizinhança, Dona Felicidade sonha em conquistar o Conselheiro Acácio, este sempre muito formal com todos amigos (uma formalidade que beira ao ridículo), enquanto Julião Zuzarte, o médico, representa o herege, com passagens muitas vezes cômicas. Desvenda-se até mesmo as verdadeiras intenções de Basílio logo que o mesmo é apresentado, e chega-se a sofrer as angústias de Luísa, pois bem vê-se que sua vida está caminhando para uma tragédia anunciada.
Com uma linguagem própria da época, "O Primo Basílio" no começo há de ser lido com calma, a fim de acostumar-se com a narrativa de Eça de Queirós, o que é muito fácil após algumas páginas, quando o leitor começa a prender-se à história e nem mais fazer distinção de certas palavras anteriormente desconhecidas. Ressalta-se a pitada de humor negro presente em algumas passagens, que tornam a leitura mais agradável a quem sabe apreciar. Sim, é possível rir lendo um clássico desse porte. E é claro, aos mais sensíveis, as lágrimas vêm aos olhos.

[Resenha participando do "Desafio Literário Skoob 2015". Abril: Mentira, enganação]

sexta-feira, 27 de março de 2015

Resenhando "A Rainha dos Condenados"

RICE, Anne. A Rainha dos Condenados. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1990. 591 p. ISBN 8532500315


Não há como resenhar qualquer livro de Anne Rice sem exaltar a genialidade da melhor escritora do gênero "gótico" das últimas décadas. Seus personagens vampíricos são os melhores descritos e mais envolventes desde "O Drácula" de Bram Stoker, fazendo o leitor crer que se vampiros existissem, eles seriam exatamente como Lestat de Lioncourt ou Marius de Romanus.
"A Rainha dos Condenados" é o terceiro livro d'As Crônicas Vampirescas, iniciando seus acontecimentos principais logo após o final do segundo livro da saga, "O Vampiro Lestat", quando Lestat, desperta a "Mãe de todos os vampiros" Akasha com sua música.
O livro é inicialmente narrado sob a perspectiva de vários personagens, preparando para um grande encontro ao final, quando as muitas pontas soltas deixadas por diversos capítulos são amarradas e muitos mistérios são revelados, como a Lenda das Gêmeas que destaca-se e rouba a cena ao longo das 591 páginas. Não há como não envolver-se com a Lenda das Gêmeas, quando todos os vampiros ao redor do mundo começam a ter sonhos com elas sem entender o motivo, mas sentindo que aquilo tudo é de suma importância e intimamente ligado à história de Akasha, que por sua vez causa temor em seus "filhos" com seus planos (perfeitos aos olhos dela) para a humanidade.
De narrativa impecável, é um livro escrito para os já leitores dos livros de Anne Rice, por dar continuidade às Crônicas e por possuir alguns capítulos narrados por Lestat mais "arrastados", com grande apelo filosófico, facilmente apreciado por fãs, mas considerados maçantes para os ainda não apreciadores da série. É comum abrir qualquer livro da autora aleatoriamente e se deparar com frases que parecem jogadas ao acaso, como poemas, onde pode-se tirar lições e que instigam ao pensamento.
Um fato interessante, é que através de Jesse, uma das personagens principais, é introduzida a história da Talamasca, uma organização secular que estuda fenômenos paranormais, onde estão as prováveis únicas pessoas que detém provas da existências dos vampiros. Na série "As Bruxas Mayfair", também de Anne Rice, que sugere-se ser lida concomitantemente às "Crônicas Vampirescas", A Talamasca é melhor explorada.
Ao final, o livro deixa vontade de continuar a leitura da série para maior conhecimento sobre Armand, Pandora, Santino, Marius e os outros vampiros fascinantes criados pela genial Anne Rice, além é claro, dos já amados, Lestat e Louis!

[Resenha participando do "Desafio Literário Skoob 2015". Março: Escritoras com 'A' maiúsculo]

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Meus pensamentos, Minhas Regras

Pensamentos: fortaleza intransponível particular
Ninguém pode entrar no pensamento alheio e interromper abruptamente
Ninguém precisa envergonhar-se de seus pensamentos
Nem explicá-los para outrem

O imaginário de cada um é o melhor lugar do mundo
Lá pode-se ter um paraíso cor de rosa
Pode-se ser quem quiser
Ter o que e quem quiser e estar aonde quiser

Pode-se criar filmes
Reviver a mesma cena dezenas de vezes
Pode-se mudar o final de algumas histórias
E inserir-se em outras

Pode-se viver coisas diferentes
Imaginar o futuro
Cenas boas e cenas ruins, porquê não?
E coisas que não se escreveria sobre.

Pode-se fazer um mundo melhor
Ter ideias e sonhar em aplicá-las e nas mudanças que causariam
E também pensar na destruição completa da humanidade
Ou em simples assassinatos

Existe a paranoia constante quando pensa-se perto de outros seres
"E se alguém puder escutar?"
Mesmo os outros sendo surdos para os pensamentos,
é mais seguro pensar em um lugar privado

Até a própria morte vem sem ser convidada (ou sim)
E as vidas que ainda não foram geradas
E os bem-vindos gatos imaginários
Juntos naquela vida mais ou menos planejada

O desconforto torna-se confortável
Os medos tornam-se irrisórios
O silêncio torna-se música
Os sonhos tornam-se reais. 

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Meros Marcadores

Meros coadjuvantes em meio ao artista principal

Percorrendo suas páginas do início ao fim

Às vezes esquecidos por muito tempo em um mesmo lugar

Às vezes não permanecendo quase nada

Servindo como apoio para outro mostrar sua arte

Querendo serem lidos também

Quantas vezes lê-se seus conteúdos?

Vida ingrata, a dos marcadores

Peças sem valor com valor inestimável

Sem eles nos perdemos terrivelmente.

Pessoas podem achar que eles são substituíveis

Por pedaços de papel

Afinal, marcadores não são meros pedaços de papel?

O que foram os livros um dia, senão uma mera ideia em um pedaço de papel?


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Resenhando "O Mágico de Oz"

BAUM, L. Frank. O Mágico de Oz. São Paulo, SP: Universo dos Livros, 2013. 160 p. ISBN 9788579303753


Publicado originalmente em 1900, O Mágico de Oz foi escrito com o objetivo de ser um conto de fadas moderno, diferenciado dos contos clássicos com fadas e gnomos.
A história começa quando Dorothy, uma pequena menina, é transportada junto com seu cachorro Totó em meio a um tornado à Terra de Oz, um mundo mágico onde nenhum habitante jamais ouviu falar do Kansas, estado de origem da garotinha. Para retornar ao mundo a que pertence, Dorothy precisa ir até a Cidade das Esmeraldas encontrar o poderoso mágico de Oz, sua unica esperança de voltar para casa. Durante a jornada pela estrada de tijolos amarelos, ela faz amigos extremamente importantes para o desenvolvimento do livro. São eles: O Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde, que se tornam seus fiéis companheiros.

Além de ser um clássico da literatura (e do cinema) voltado ao público infantil, o livro traz importantes lições de vida. Alguns personagens buscam desesperadamente por coisas que eles já possuem dentro deles, mas só sentem que as têm quando acreditam que alguém as concede. O Espantalho, que quer um cérebro, já é muito inteligente e sempre tem as melhores ideias quando o grupo encontra-se em apuros, embora pense ser inferior aos outros homens. O Homem de Lata (personagem detentor da melhor história de vida anterior aos fatos ocorridos no livro) deseja ter um coração, pois pensa ser insensível, ele que é tão cheio de sentimentos e discernimento do que é certo e do que é errado. Já o Leão pensa ser covarde e sonha em ganhar coragem e assim se tornar o rei dos animais, mas salva seus amigos em muitos momentos da jornada com sua coragem já existente. Estes três personagens projetados para serem o apoio de Dorothy roubam a cena com seu carisma e inocência, se tornando mais queridos por muitos do que a própria protagonista, que apesar disso permanece forte, mostrando-se muito determinada ao longo da jornada. Sem Dorothy, seus amigos não teriam iniciado a maravilhosa (e por vezes temerosa) aventura que os tornou tão próximos.

L. Frank Baum demonstrou muita criatividade ao escrever "O Mágico de Oz" em sua época, que apesar de ser um livro pequeno com a escrita voltada às crianças, cativa leitores de todas as idades e de todas as épocas.


[Resenha participando do "Desafio Literário Skoob 2015". Fevereiro: Fantasia]

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Resenhando "Bonnie e Clyde: A vida por trás da lenda"

SCHNEIDER, Paul. Bonnie e Clyde: a vida por trás da lenda. 1 ed. São Paulo, SP: Larousse do Brasil, 2009. 432 p. ISBN 9788576356530

Livro de não ficção, Bonnie e Clyde: a vida por trás da lenda, foi escrito com base em pesquisas realizadas a fundo por Paul Schneider em arquivos da época em que o famoso casal viveu (início do século XX) e entrevistas com familiares, amigos e pessoas que os conheceram. Segundo o autor, todos os fatos retratados realmente aconteceram, ao contrário do que apresentam as adaptações cinematográficas e televisivas realizadas até então sobre a vida de Bonnie Parker e Clyde Barrow.

Clyde e Bonnie se conheceram durante a época da depressão nos Estados Unidos, período de extrema pobreza e escassez de empregos, o que levava muitos jovens a cometerem roubos, assaltos, e consequentemente, assassinatos. Muito cedo, Clyde e seu irmão iniciaram a vida de crimes, chegando a serem presos, assim como muitos de seus amigos, mas fugir das prisões não era difícil e se a causa da detenção fosse alguns roubos, conseguia-se a liberdade após pouco tempo. Após sair da prisão, Clyde tenta viver honestamente por um curto período, mas acaba sucumbindo à vida fora da lei, levando Bonnie consigo, que por sua vez, o segue inicialmente por amor e diversão. Os dois passam a maior parte de suas vidas a partir de então fugindo e se escondendo, sempre na estrada, dormindo dentro do carro, e tendo encontros furtivos com suas famílias, até serem pegos depois de muitas tentativas frustradas da parte dos policiais.

Muitos boatos sobre o casal iniciaram-se ainda quando eles eram fugitivos, tanto por jornalistas quanto por policiais. Várias coisas ditas sobre eles passadas adiante até os dias de hoje permanecem como incógnitas, mas muitas outras foram desvendadas pelo autor e retratadas no livro, trazendo uma percepção ligeiramente diferente do que é contado sobre a vida de Bonnie e Clyde na ficção. O autor somente afirma fatos dos quais as fontes são confiáveis, ou quando mais de uma fonte confirma tal fato. Mesmo falas das pessoas entrevistadas são reproduzidas fielmente na escrita.

A maior parte do livro é narrada pelos personagens, o que torna os capítulos que apresentam tiroteios e fugas no Ford V8 impossíveis de leitura lenta ou eventuais pausas, fazendo com que o leitor prenda a respiração em muitos trechos. A desmistificação da lenda do casal fora da lei faz entender que sua vida não foi uma divertida aventura, e sim uma sucessão de erros que os levaram a um ponto no qual retroceder já não era possível, e que o único caminho para eles era a morte.


[Resenha participando do "Desafio Literário Skoob 2015". Janeiro: Novinho em folha (o último livro que você comprou/ganhou/baixou/pegou emprestado)]