sábado, 30 de abril de 2016

Resenhando "A Bibliotecária de Auschwitz"

ITURBE, Antonio G. A Bibliotecária de Auschwitz. Rio de Janeiro, RJ: Agir, 2014. 368 p. ISBN 9788522015849.


Antonio G. Iturbe, escritor espanhol, escreve este romance baseado em uma história real de uma menina Tcheca, cujo crime aos olhos do 3º Reich, foi ter nascido em uma família judia. Edita Adlerova (Dita Dorachova) tinha apenas 9 anos quando os alemães invadiram Praga durante a Segunda Guerra Mundial. Aos poucos, ela e sua família se veem obrigados a deixar a vida confortável para trás, sendo deportados primeiro à guetos judaicos e após, para um dos campos de concentração mais famosos da história, Auschwitz-Birkenau, campo familiar mantido pelos nazistas.
Aos 14 anos, Dita encontra um propósito em meio àquelas mortes, doenças e horror. Ela torna-se a bibliotecária do bloco 31, uma escola mantida para as crianças presentes no campo de concentração por judeus que ainda não perderam as esperanças. Nessa escola, há 8 livros mantidos escondido dos nazistas. 8 tesouros, que tornam-se responsabilidade de Dita, que os ama como uma mãe ama um filho. O principal nome mantenedor do bloco 31 é Fredy Hirsch, professor admirado por todas pobres almas mantidas contra a vontade no campo, e único capaz de falar com os oficiais da SS como igual, talvez por ser alemão. Fredy mantém as esperanças e o ânimo de todos e sua principal preocupação são as crianças. É acima de tudo, um idealista que visa dar o mínimo de educação para aqueles meninos e meninas. Dita o admira infinitamente e dessa admiração, muitas vezes tira forças para continuar com sua missão, mesmo sentindo-se muitas vezes, apavorada.

O Livro


São personagens do romance figuras históricas como Josef Mengele, o Anjo da Morte. O médico nazista era conhecido por suas experiências com os internos de Auschwitz e seu fascínio pela genética, tendo obsessão por irmãos gêmeos. Ao ouvi-lo assoviar alguma ópera, o sangue daqueles infelizes encarcerados congelava ainda mais do que o frio da Polônia e o medo fazia-se ainda mais presente. Sobreviver àquele inferno às vezes deixava de fazer sentido, e muitos entregavam-se. Com as condições precárias de higiene, saúde e alimentação, os internos eram vítimas de muitas doenças e não resistiam. Muitos também eram executados.
Em meio à morte, fome e desespero, algumas tentativas de fugas são narradas no livro. Nesses capítulos a interrupção da leitura torna-se impossível, como em muitos momentos tensos do romance. Muitas histórias distintas aconteceram naqueles campos de concentração, e algumas são narradas concomitante à história de Dita e Hirsch, tornando a leitura mais interessante ainda.
As lágrimas vêm aos olhos em distintas passagens. Mortes tristes, sofrimento. Coloca-se no lugar destes personagens que sabe-se serem reais. A leitura é densa, e como poderia deixar de ser tratando-se de uma narrativa do que provavelmente foi o período mais negro da história mundial? Há de se ter muito preparo para escrever algo deste porte e neste aspecto o autor pode ser parabenizado, bem como sua pesquisa impecável que o levou à conhecer a verdadeira Dita e ouvir dela o que se passou durante aqueles anos, sobre as aulas no bloco 31 e o esconderijo daqueles livros que valiam para ela tanto quanto a comida escassa naquele tempo.
Não há como não tirar uma lição após a leitura de qualquer obra que trate de tal assunto. Primeiro, conclui-se que a humanidade pode ser incrivelmente ruim, subjugando seus semelhantes acreditando ser algo positivo. Segundo, descobrindo que existiram tais pessoas que mantinham as esperanças e se colocavam em risco em prol de crianças tão inocentes quanto eles, conclui-se que as pessoas podem ser igualmente boas. O amor pelos livros retratado ressalta virtudes na personagem principal que faz o leitor, assim como escritor, considerá-la uma heroína.

[Livro Resenhado para o Desafio Literário Skoob 2016. Abril. Holocausto]