Escrito de forma não linear, Pátria narra a história de duas famílias muito amigas residentes em uma vila no país Basco (comunidade localizada na parte norte da Espanha). Focada nas duas matriarcas, Bittori e Miren, a narrativa cobre três décadas de suas vidas. Em meio a um cenário real, a luta do grupo separatista ETA pelo que, na sua visão é a luta pela liberdade do povo Basco (que em grande parte os apoia), e sob o ponto de vista contrário, terrorismo, as duas famílias passam por um rompimento repentino de sua amizade, quando Txato, o marido de Bittori passa a ser ameaçado pelo ETA e toda a comunidade da vila se coloca contra ele e sua família, incluindo a família de seu melhor amigo Joxian, marido de Miren, cujo um dos filhos, Joxe Mari entra para a luta armada empreendendo junto de seus companheiros ataques a empresários que não lhes fornecem subsídio. Após o assassinato de Txato, seus filhos Xabier e Nerea levam a mãe Bittori embora da vila, mas a mesma não consegue deixar o passado para trás e volta após anos, quando o ETA anuncia o final da sua luta, em busca de respostas para ficar em paz.
O autor nascido em San Sebastian, localizada na mesma região onde passa sua história, narra acontecimentos ocorridos em vários momentos da vida de todos os integrantes das duas famílias. Eles possuem cada qual suas aventuras e angústias, como pessoas normais que são, apesar dos respectivos dramas em suas famílias causadas pela luta/terrorismo. Uma família cujo pai perdeu a vida para o terrorismo e uma família cujo um dos filhos perdeu a liberdade por lutar por seus ideais.
Talvez a narrativa paralela mais interessante seja a de Aratxa, filha de Miren e Joxian, cujo destino a deixou presa em uma cadeira de rodas dependendo dos pais e mesmo assim, consegue feitos incríveis que refletem no final do livro. O irmão mais novo de Joxe Mari e Arantxa, Gorka também é um personagem curioso, com seus mistérios sendo revelados ao longo da obra e conquistando a simpatia do leitor.
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"E como as pessoas resistem a devolver ao planeta os átomos emprestados. Na verdade, estranho e excepcional é estar vivo." |
A obra apresenta uma escrita fluída que só precisa ser entendida e aceita por quem o aprecia, pois além de não seguir uma linearidade, Fernando Aramburu alterna entre a narrativa de terceira para primeira pessoa abruptamente, as vezes dentro de um mesmo parágrafo, o que causa estranheza no início da leitura, bem como trechos onde são inseridas falas de dois personagens no mesmo parágrafo, como se um perguntasse e já ouvisse a resposta de seu interlocutor. Um ponto interessante também na escrita, é o uso de algumas expressões bascas, tornando o uso do glossário inserido ao final da edição necessário diversas vezes.
Um livro tocante, com algumas passagens densas capazes de causar melancolia, contando os dois lados de uma história contemporânea ambientada em meio a acontecimentos reais de forma inteligente, não aprofundando muito nos fatos históricos mas sim nos sentimentos dos personagens que bem podem representar pessoas reais.