sábado, 30 de maio de 2020

Frankenstein - Mary Shelley

Escrito há mais de 200 anos, Frankenstein (ou o Prometeu moderno) é uma das obras mais influentes do mundo, tendo ganhado diversas adaptações cinematográficas, sendo referenciado em séries e até HQ's. Considerado o precursor da ficção científica literária, o livro nasceu de um episódio onde a autora Mary Shelley, na ocasião ainda Mary Wollstonecraft Godwin ficou alguns dia em uma mansão na Genebra, Suiça, com seu companheiro, o renomado poeta Percy Shelley, e um grupo de amigos, Lord Byron, também ilustre poeta na época, o médico John Polidori e a irmã de criação de Mary, Claire Clairmont. O tédio os fez terem ideias de escreverem contos de terror, e a partir de um sonho assustador, Mary iniciou a escrita que concluiu com apenas 19 anos do que se tornaria um dos maiores clássicos do gênero.
O livro narra a história de Victor Frankenstein, cientista que dedica sua vida a estudos sobre como criar vida a partir de tecidos mortos. Após alguns anos de tentativas, com sua crescente obsessão ele consegue dar vida a uma criatura a partir da eletricidade, mas se arrepende logo em seguida ao perceber que criou um ser monstruoso, e o considerando uma aberração, o abandona. A criatura por sua vez tem consciência como um ser humano, possuindo inteligência e sentimentos, e só deseja encontrar amor e compaixão. Devido sua aparência, ela não obtém sucesso, sendo desprezada por todos que encontra em seu caminho, o que a leva a tornar-se violenta e desejar vingança daquele que a criou.


Edição Deluxe da Darkside que ainda conta com uma breve história da autora e mais 4 contos da mesma, todos sobre imortalidade. O livro também apresente ilustrações lindíssimas e fita vermelha para marcar páginas, combinando com a temática da capa e ilustrações internas.

 Apesar de ser um clássico que conta com uma história brilhante que no geral flui bem, a história carece de detalhes sobre a criação do ser, que foi reanimado de forma vaga, e algumas poucas passagens do livro podem ser consideradas monótonas pelo leitor. O fato de a autora não se ater a detalhes da criação explica-se provavelmente por este não ser o foco da obra dramática, e sim nos fazer refletir sobre quem é o verdadeiro monstro, Victor ou a Criatura? É impossível não se solidarizar com a pobre criatura que foi jogada ao mundo por seu criador e apenas sofreu com a falta de empatia da humanidade, que mesmo em tempos atuais, ainda julga meramente a aparência de seus semelhantes.


quarta-feira, 27 de maio de 2020

O Anuário da Grande Mãe - Mirella Faur

Nascida na Transilvânia, Mirella Faur possui propriedade em falar sobre a Grande Mãe, tendo contribuído fortemente no Brasil, iniciando o movimento "Ressurgimento do Sagrado Feminino" em Brasília, e dirigindo por mais de 20 anos o Círculo Sagrado da Chácara Remanso, que reunia centenas de mulheres em rituais inspirados no culto a Deusa da antiguidade. Tomou para si a tarefa de auxiliar mulheres a despertarem sua sacralidade milenar e a se libertarem do patriarcado incrustado na sociedade.
O Anuário da Grande Mãe é o livro que toda a bruxa precisa, sendo resultado de um estudo realizado pela autora sobre celebrações, símbolos e atributos das Deusas cultuadas ao longo do tempo em diversas culturas mundiais vivenciadas através de grupos de mulheres em vários países. No livro, que pode e deve ser utilizado como auxílio para práticas espirituais, encontram-se as celebrações panculturais diárias, esclarecimentos sobre a Roda do Ano e os Sabbats, influência da lua sobre a humanidade, plenilúnios, rituais, menstruação e a cura emocional da mulher, etc. Importante citar o capítulo que traz a Lenda das Treze Matriarcas, nos fazendo refletir sobre nossos valores, cura pessoal e o equilíbrio da Terra. As mulheres devem promover entre si, ao contrário do que a sociedade espera, união e amor próprio para encontrarem a sua essência.

A obra em meu altar.
A única ressalva que faria é que Mirella, ao explanar sobre cada Sabbat, segue a Roda Norte, ou seja, as celebrações estão datadas conforme comemora-se nos países do hemisfério norte (o que é devidamente explicado pela autora), e normalmente os moradores de países do hemisfério sul seguem de forma diferente (Roda Sul) e necessita-se fazer as próprias correspondências mentais. Ademais, é um livro ótimo para consultar frequentemente alinhado às práticas de cada um, inclusive diariamente para situar qual comemoração ocorre no dia em diversas culturas, sendo o mais completo estudo publicado em língua portuguesa sobre os arquétipos da Deusa.

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segunda-feira, 18 de maio de 2020

H.P. Lovecraft - Medo Clássico vol. 1

Howard Phillips Lovecraft, escritor estadunidense nascido em 1890, revolucionou o terror literário empregando-lhe elementos fantásticos presentes em gêneros como ficção científica e fantasia. Não tendo um grande número de leitores em vida, atingiu o sucesso postumamente, e hoje é reconhecido ao lado de Edgar Allan Poe, em quem inspirava-se, como um dos nomes mais influentes do gênero.
Nesta obra em particular, organizada pela editora Darkside para sua coleção "Medo Clássico", são reunidos alguns dos contos mais relevantes do autor, como sua história mais famosa, "O Chamado de Cthulhu", além de dois contos mais compridos e considerados prolixos por alguns leitores, "A Sombra Vinda do Tempo" e "Nas Montanhas da Loucura" (ambos com temática muito parecida) que compartilham a edição com contos mais dinâmicos, como "Dagon", "O Cão de Caça", "O Depoimento de Randolph Carter" e a curtíssima "História do Necronomicon".
Entre os contos mais curtos da obra, destaca-se "A Cidade Sem Nome". Suas 20 páginas conseguem prender a atenção do leitor e sua reta final é de tirar o fôlego (algo comum em outros contos do autor onde o leitor se imagina vivendo os terrores dos personagens).
Outro conto presente na edição que merece ser comentado, é "Herbert West: Reanimator", que conta com a história de um médico obcecado por reviver seres sem vida, descrevendo as dificuldades para tal feito em seres humanos e a busca do médico e seu assistente (que narra a história) por um cadáver fresco para os estudos, levando Dr West a cometer atos desprezíveis. É sabido que Lovecraft odiava este conto, pois o escreveu somente visando a compensação financeira que lhe trouxe, pois como já citado, ele não obteve sucesso em vida e necessitava se sustentar. Mesmo o autor não gostando de sua criação, esta caiu nas graças dos leitores, sendo hoje em dia um de seus contos mais populares, tendo inclusive ganhado adaptações cinematográficas.

Miskatonic Edition - Inspirada na Universidade criada por Lovecraft em seus contos



Alguns contos clássicos ficaram de fora desta primeira edição, intitulada como "volume 1", indicando que muito provavelmente teremos o volume 2 de contos do filho de Providence lançado pela Darkside.

Lombada da edição que apresenta cortes pintados em verde, fita da mesma cor para marcar páginas, ilustrações e notas de rodapé explicativas.

Esta edição da Darkside agrada não só aos grandes fãs de Lovecraft, como aqueles apreciadores do terror, de grandes clássicos e de belas edições para as coleções. Um item que vale a pena ser adquirido e que após lido deixa o leitor ansioso para ler outros contos do autor.

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segunda-feira, 11 de maio de 2020

Como começar a ler Tolkien - O Hobbit

Amado por fãs de fantasia épica, John Ronald Reuel Tolkien deixou um valoroso legado através de suas obras. A trilogia "O Senhor dos Anéis" é a mais lembrada pelo público em geral nas últimas décadas, fato decorrente da adaptação cinematográfica da obra (algo que em vida Tolkien não teria permitido), mas as histórias escritas no universo completo que ele criou são numerosas. O professor universitário concebeu um mundo com uma mitologia e línguas próprias, além de raças cada uma com sua cultura e comportamentos muito específico, e ainda há as outras obras que não tratam da Terra Média mas que também enquadram-se no gênero que o autor é sem dúvida, a maior referência, afinal, ele foi o pioneiro da fantasia na literatura.
Muitas pessoas quando começam a ler Tolkien pelo livro "A Sociedade do Anel" por exemplo, se deparam com uma certa complexidade e acham a descrição dos cenários exagerada. Pode não ser um problema para quem está acostumado a leituras densas e deseja muito conhecer a Terra Média, mas ocorre de alguns leitores não se encantarem pelo universo de Tolkien como poderiam. Assim, sugere-se para quem ainda não adentrou esse maravilhoso acervo da fantasia que comece pela primeira narrativa publicada pelo autor, "O Hobbit".

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Uma edição de "O Hobbit" que conta com diversas ilustrações em seu interior.

Como outras de suas obras, "o Hobbit" foi escrito por J.R.R. Tolkien para seus filhos, tendo sido criado portanto, para ser um livro para crianças. Mas não se engane, adultos apreciam a narrativa tanto ou mais que os pequenos.
O livro conta as aventuras de Bilbo Bolseiro, um hobbit do Condado que vive de forma tranquila e confortável em sua toca, até que o mago Gandalf o arrasta para uma jornada com 13 anões que estão em busca de seu tesouro roubado pelo dragão Smaug quando o avô de Thorin Escudo de Carvalho, o anão líder da comitiva, era rei.

Em uma toca no chão vivia um hobbit.
Bilbo parte com eles a contragosto e vive a maior aventura de sua vida. Durante o percurso eles se deparam com trolls, orcs, aranhas gigantes, elfos amigáveis e outros não tão amigáveis assim e Bilbo tem um encontro muito importante com uma criatura chamada Gollum que carrega um certo anel presente em outra história da Terra Média. Importante citar que o grupo aventureiro também passa por Valfenda, onde encontram o mestre elfo Elrond, também presente em outras histórias.

Dragões almejam ouro com desejos sombrios.
"O Hobbit" é um clássico escrito de forma descomplicada, tornando fácil sua compreensão e é uma ótima forma de entender o mundo fantástico de seu escritor, abrindo portas para toda uma obra que fez de Tolkien imortal. Após concluída a leitura é quase impossível não querer adentrar a Terra Média em outras histórias, o que será muito mais natural com a base criada na apreciação da saga de Bilbo.

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sábado, 9 de maio de 2020

Olhos Estranhos

As vezes olho no espelho e não reconheço meu rosto.
Vejo uma boca com dentes que não sei a quem pertence
Ela fala comigo com uma voz que não me recordo
Enquanto se move um maxilar com formas que eu nunca tinha reparado
Respiro fundo e noto aquele nariz intruso
Os dedos finos retiram os fios de cabelo que caem nos olhos
Eles piscam e reparo que desconheço aqueles cílios
Aqueles olhos estranhos me olham de volta
No fundo da alma
E eu me pergunto:
Onde foi que me perdi de mim mesma?

(Vozes da minha cabeça)


sexta-feira, 8 de maio de 2020

Cem Anos de Solidão - Gabriel García Márquez

"...porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda chance sobre a terra."

Cem anos de solidão foi publicado em 1967 após dois anos sendo trabalhado por Gabriel García Márquez, escritor e jornalista Colombiano que viria a ser laureado com o prêmio Nobel de literatura em 1982. Porém até a publicação da obra, Gabo, como é conhecido em seu país natal, não conseguia alcançar sucesso e vivia modestamente com sua família no México. Sua realidade mudou quando as primeiras tiragens de "Cem anos de solidão" esgotaram-se em questão de dias, içando seu autor a um novo patamar onde o reconhecemos atualmente, tendo sido a referida obra considerada uma das principais da literatura latino-americana traduzida em 36 idiomas.
Principal nome da escola literária realismo mágico, o livro tem como personagens principais os integrantes da família Buendía, narrando os acontecimentos de sete gerações da estirpe residente em um povoado fictício denominado Macondo, cujos fundadores foram, entre outros, o patriarca e a matriarca da família, José Arcádio Buendía, e sua esposa (que também era sua prima) Úrsula Iguarán. José Arcádio Buendía ansiava encontrar o caminho para o mar, mas devido as adversidades, acabaram desistindo pelo caminho, onde fundaram a aldeia para qual todos os Buendía que foram embora retornaram antes de suas mortes. O casal da primeira geração teve três filhos legítimos, José Arcádio, coronel Aureliano Buendía (considerado por muitos o personagem principal da obra) e Amaranta, além de uma filha adotiva, Rebeca. Conforme os personagens ficam adultos e têm filhos, e seus filhos têm outros filhos, o leitor pode facilmente perder-se com os nomes demasiados parecidos dos personagens masculinos, sempre batizados como José Arcádio ou Aureliano (em um ponto da narrativa surgem 17 Aurelianos, filhos bastardos do coronel Aureliano Buendía), fato que serve para mostrar a ciclicidade da história, onde as paixões e tragédias tendem a se repetir, mas as confusões facilmente se dissipam ao consultar a árvore genealógica da família, disponível na edição brasileira de 2014 e provavelmente em outras também.
A solidão presente no título da obra está em cada membro da família, cada qual com suas aflições e desejos, vivendo sempre concentrados em suas atividades sem ter tempo de pensar na solidão dos outros. É possível identificar-se com alguns deles, e durante a leitura sente-se um misto de emoções, como raiva, pena, alegria, as angústias dos personagens e sua solidão, o que pode resultar em reflexões sobre como somos solitários, convivendo com muitas pessoas, mas muito mais com nossos próprios afazeres e pensamentos. O leitor também é levado a vários estados conforme os acontecimentos, podendo ficar vidrado e ansioso com fatos relacionados a alguma das 32 guerras que o coronel Aureliano Buendía travou, maravilhado com os ciganos que visitam Macondo ou extremamente chocado, como na passagem onde os mais de três mil estavam na estação (José Arcádio Segundo não queria que esquecêssemos). Também é possível se divertir com os trechos que deixam claro o realismo fantástico, como a pandemia da insônia e do esquecimento, a personagem que come terra, o personagem cujo as borboletas amarelas o acompanhavam, os fantasmas dos mortos que habitam a casa e a personagem que subiu aos céus, esta última deveras curiosa durante toda a sua passagem. Sendo considerada muito bela, causava uma perturbação nos homens, sem querer causar nada, apenas viver de forma mais simples possível, não entendendo porquê as pessoas complicavam tanto suas vidas. Talvez a personagem mais lúcida da estirpe no final das contas.
Outra personagem feminina que merece destaque é Amaranta, algumas vezes perversa, demora-se a entender seus propósitos, e no final quando se entende, ela revela-se uma das que carregam a solidão clássica da família de forma mais pesada. No geral, as personagens mulheres, tanto as da família quanto as ligadas aos Bundía por outros meios são muito fortes e interessantes, muito bem trabalhadas como toda a escrita do autor.

Foto tirada após uma chuva de quatro anos, onze meses e dois dias

Uma curiosidade é que Gabo inseriu um personagem com seu nome na reta final da história. Trata-se do rapaz chamado Gabriel, bisneto do coronel Gerineldo Márquez, personagem que fora amigo e lutou ao lado do coronel Aureliano Buendía. Ainda cita a "sigilosa namorada de Gabriel", Mercedes, que batizou com o mesmo nome de sua esposa, Mercedes Barcha. O autor também utiliza os nomes de seus filhos em uma passagem, quando a personagem Úrsula Amaranta diz que deseja ter dois filhos e de jeito nenhum chamá-los  José Arcádio e Aureliano e sim Rodrigo e Gonzalo.
Depois de mais de 50 anos de sua primeira publicação, "Cem anos de solidão" arrebata as almas leitoras pelo mundo, para onde levou a América Latina em suas páginas.

domingo, 3 de maio de 2020

Mulheres que Correm com os Lobos - Clarissa Pinkola Estés

Mitos e histórias do arquétipo da Mulher Selvagem

O livro que todas as mulheres deveriam ler. E os homens também. "Mulheres que correm com os lobos" teve sua primeira edição publicada em 1992 e desde então popularizou-se entre mulheres que descobrem seu despertar mental e espiritual e homens capazes de compreender e respeitar a importância do tema.
Clarissa Pinkola Estés é uma psicóloga junguiana (especialista em traumas pós guerra) de nacionalidade indiana com ascendência mexicana e nativa americana. Em sua infância, foi adotada por um casal de húngaros e quando adulta, já viveu nos EUA e atualmente fixou residência no Brasil, tendo tido durante sua vida, contato com diversas culturas e interessando-se principalmente por suas histórias, lendas e mitos, que de forma perspicaz, utiliza em "Mulheres que correm com os Lobos".
Em seu mais conhecido livro, Clarissa busca auxiliar no resgate da mulher selvagem que habita em cada uma de nós, identificando seu arquétipo, sua essência da alma feminina, a psique instintiva mais profunda interpretando diversas lendas e histórias antigas (algumas até muito conhecidas) como o Barba-Azul, Vasalisa, o Patinho Feio, Sapatinhos Vermelhos, La Llorona (A Chorona), a Donzela sem Mãos, entre outras que lendo a primeira vista não entendemos toda a profundidade. A autora esmiúça esses contos fazendo analogias às situações que todas provavelmente passamos ou iremos passar em algum ponto da vida, utilizando o conhecimento obtido com suas pacientes no exercício da profissão de psicóloga.


A edição de 2018 da Rocco é lindíssima e possui uma textura muito agradável ao toque, além de contar com fita vermelha para marcação das páginas, que são amarelas (creme), cansando menos a vista do leitor.

A maioria das mulheres é criada para ser "mansa" e muitas passam a vida reprimindo-se por acreditarem em tal imposição. O patriarcado e religiões conservadoras são os maiores responsáveis pela repressão da mulher selvagem, fazendo muitas de nós acreditarmos que devemos continuar sufocando nossa essência, criando na psique monstros que "podam" nossa criatividade e confiança e adotar dogmas sociais onde a conexão com a natureza e com tudo que em comunidades antigas matriarcais era considerado sagrado é algo primitivo e bárbaro, crendo que ser selvagem é uma coisa ruim, feia. Por isso este livro é tão importante, ele pode abrir os olhos de mulheres adormecidas e fazer as que estão despertando enxergarem muitas coisas que ainda precisam ser trabalhadas, como o próprio ego que pode ser um obstáculo para o encontro com a mulher selvagem.
Se necessário fosse escolher apenas um capítulo desta obra, seria "A volta ao lar: O retorno ao próprio Self", onde somos introduzidos ao conto da Mulher Foca, uma história onde uma jovem mulher foca perde sua pele e se vê anos depois perdida e apagada sem ela, entendendo que precisa de sua pele e de retornar ao seu lar para recuperar sua essência. A pele de foca neste conto representa a essência feminina, o que somos de verdade, pelo que devemos lutar. Muitas vezes nós perdemos nossas peles de foca durante o caminhar, seja dedicando a vida a outras pessoas, seja para o ego, seja para coisas que habitam em nós mesmas. Clarissa nos ajuda a compreender quando isso ocorre e a começar a volta ao lar, recuperando a própria pele de foca.
Mulheres que correm com os lobos não é um livro fácil de ler, pois tem muito a ser entendido e absorvido. Muito menos é uma leitura rápida. Dizem que se este livro é lido muito rapidamente, não foi lido corretamente, o que faz sentido em alguns casos, pois cada capítulo é uma revolução dentro de nós, e acredito que em partes onde travamos e não conseguimos ir adiante devemos parar e pensar sobre o que estávamos lendo, pois provavelmente é algo que precisamos refletir. É um livro que nos chama quando é a hora de ler e vai nos chamando quando devemos retomar a leitura após breves paradas. Cada pessoa terá seu próprio tempo com Mulheres que Correm com os Lobos e aprenderá o que precisar no momento. Se for necessário, a leitora ouvirá seu chamado novamente em outra fase da vida. 
Ao término, fico grata e sinto que no futuro o visitarei novamente.


sexta-feira, 1 de maio de 2020

As Crônicas de Artur: O Rei do Inverno - Bernard Cornwell

Muitos autores já dissertaram acerca dos contos do famoso Rei Artur, e cada um deles nos apresenta um ponto vista. "O Rei do Inverno" é o primeiro de uma trilogia sobre as lendas arturianas sob a ótica do genial Bernard Cornwell, escritor britânico que figura entre os mais importantes da atualidade com a publicação de romances históricos muito bem embasados em seu vasto conhecimento.
No livro de estreia dAs Crônicas de Artur, publicado em 2015, conhecemos o grande guerreiro e líder, fácil de se gostar Artur, que apresenta falhas como qualquer ser humano. A narrativa é feita pelo personagem Derfel Cadarn, um velho monge que fora um de seus guerreiros na juventude. Derfel nos apresenta relatos interessantes sobre a vida de Morgana e Merlin, o gênio de Lancelot, como Guinevere entrou na vida de Artur, entre outras figuras conhecidas por aqueles interessados em suas lendas. 
Como em outras obras de Cornwell, o ápice fica por conta das batalhas narradas magistralmente, fazendo com que o leitor se sinta dentro de uma parede de escudos lutando ao lado dos personagens, sentindo suas emoções, medos e júbilo. Aliás, quem opta por ler a versão do autor para a saga de Artur já espera que a guerra tenha destaque, ao contrário das "Brumas de Avalon" de Marion Zimmer Bradley por exemplo, onde temos a narrativa feita pelas personagens femininas e destaque para o misticismo envolvendo a trama (Sugiro fortemente a leitura desta série também para quem se interessa pelo assunto).
"O Rei do Inverno" é uma leitura envolvente que cumpre seu papel de instigar a continuação da leitura da trilogia. Entre as personagens conhecidas, destaca-se Nimue, sacerdotisa e amante de Merlin (apresentada também com outros nomes por outros autores), de suma importância para a narrativa devido sua relação com Derfel, tecendo junto deste capítulos fantásticos a parte do esperado.