segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O Cemitério de Praga - Umberto Eco

Publicado em 2010, O Cemitério de Praga é um romance histórico escrito pelo italiano Umberto Eco, escritor renomado, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo, falecido em 2016.

Em sua polêmica obra, Eco insere seu personagem principal, Simone Simonini (um dos únicos personagens inventados da trama) em eventos históricos ocorridos na Europa no final do século XIX. Antissemita, misógino, assassino, ambicioso em demasia e glutão, o falsário Simonini encontra várias figuras conhecidas durante a narrativa que se passa na França (na maior parte do tempo) e na Itália. O próprio título do livro é uma alusão ao cemitério judeu existente em Praga, onde, as teorias conspiratórias afirmavam, ocorriam encontros de rabinos representantes das 12 tribos de Israel que tramavam dominar o mundo e subjugar outros povos. Simonini é envolvido nessa trama que originou os Protocolos dos Sábios de Sião, documentos que posteriormente embasaram a ideia de Adolf Hitler de exterminar os povos semitas. Outro caso de antissemitismo muito conhecido que também é abordado no livro, é o Caso Dreyfus, conflito ocorrido em torno da acusação do capitão do exército francês Alfred Dreyfus (judeu) acusado injustamente de vender informações secretas aos alemães.

Através dos diários de Simonini, o vemos envolvido em muitos outros acontecimentos históricos além dos já citados e conhecer pessoas como Garibaldi, Alexandre Dumas, Léo Taxil e Freud, esse último, responsável por aconselhar o personagem principal a escrever os diários a fim de recobrar sua memória que sofria lapsos ao início da narrativa. Através dos diários percebemos que Simonini sofre de dupla personalidade pois alguns trechos são escritos pelo abade Dalla Piccola, revelando fatos ocultos da mente de Simonini que acredita que o abade seja outra pessoa que invade seus diários.

Além do antissemitismo abordado, atraindo a antipatia da comunidade judaica (mesmo a intenção do autor tendo sido denunciar o preconceito deixando claro que seu personagem antissemita é detestável e ridículo), Eco mais uma vez escreveu capítulos que desagradaram o Vaticano (feito já cometido em O Nome da Rosa), narrando conspirações jesuíticas contra maçons, satanismo e missas negras, aliás, particularmente considero o capítulo que descreve em detalhes uma missa negra um dos pontos altos de O Cemitério de Praga, que apesar de denso, naturalmente faz com que o leitor de humor mais ácido emita alguns risos.

Há quem acuse Eco de nesta obra ter sido pedante devido seu demasiado eruditismo, e não discordo totalmente, pois não é um livros para todos. É necessário conhecer um pouco da história da França e Itália do final do século XIX ou ao menos, gostar do tema para ter disposição de pausar a leitura a fim de informar-se sobre os personagens e ocorrências. Também é necessária total atenção para não perder-se na trama cheia de personagens e muitas vezes, paciência nas passagens não tão necessárias, como descrições detalhadas dos pratos que Simonini degustava, colocando em evidência sua glutonaria. 

Se você prefere leituras mais fáceis e fluídas, talvez O Cemitério de Praga não seja para você, mas se já é habituado a livros densos e difíceis que exigem total atenção ou quer se desafiar, indico totalmente, pois apesar dos percalços, chegar ao final dessa obra que termina abruptamente impondo reflexões, vale muito a pena.


sábado, 15 de agosto de 2020

Confissões do Crematório - Caitlin Doughty

Caitlin Doughty é uma agente funerária norte americana quem tem por missão de vida tentar fazer com que as pessoas não mais enxerguem na morte um tabu. Além de publicar livros sobre o assunto, ela mantém um canal no YouTube onde responde com bom humor questões sobre morte e práticas funerárias e é fundadora de um grupo que reúne profissionais e estudantes da área e artistas para falar sobre o tema (The Order of the Good Death). 

Em Confissões do Crematório a autora relata de forma muito bem-humorada sobre seus seis primeiros anos na indústria funerária, mais especificamente, sobre interessantíssimas histórias vivenciadas enquanto funcionária de um crematório em São Francisco, revelando detalhes técnicos sobre preparação de corpos, embalsamamento, operação do forno crematório, e casos curiosos como de alguns familiares de pessoas mortas aos seus cuidados e suas aventuras quando precisava junto de seu colega buscar cadáveres de pessoas que haviam falecido em casa.

A autora também traz suas reflexões acerca do tema, histórias de sua vida íntima e a relação disso com a mortalidade e informações históricas sobre como algumas culturas lidam com a morte (Caitlin é formada em História Medieval). Alguns preferem uma pira a céu aberto, outros, deixar que outras espécies consumam seus restos mortais em um ciclo de devolver à terra o que a ela pertence, já outros, acreditam que a melhor forma é praticando canibalismo.

Um livro muito rico em informações, bem mais do que apenas um compilado de histórias hora divertidas, hora tocantes, que cumpre seu papel de fazer as pessoas refletirem sobre o que consideram uma boa morte e como querem deixar esse mundo.

A morte é o que nos motiva. Saber que um dia tudo terá fim nos faz sentir vontade de viver e cumprir nosso papel na terra.  


"Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva"

(Raul Seixas - Canto Para Minha Morte)

quinta-feira, 30 de julho de 2020

As Crônicas de Artur: Excalibur - Bernard Cornwell

Último livro da trilogia As Crônicas de Artur, Excalibur, como é esperado em seu título esclarece a grande importância e o misticismo envolvendo a lendária espada de Artur, que segundo essa versão de sua história nunca chegou a ser rei, mas sim um líder aclamado e reconhecido até hoje, mesmo sem se ter certeza de que ele realmente existiu.
Devido fatos ocorridos no final do segundo livro, na primeira parte de Excalibur, Artur que sempre fora alegre e gentil está amargo e fechado. Além de problemas pessoais, ele enfrenta um período muito ruim na Britânia e são necessárias mais batalhas épicas como somente Bernard Cornwell descreve. Há fatos históricos que indicam que muitas dessas batalhas realmente ocorreram, mesmo em meio ao obscurantismo, e uma delas é cenário para um dos pontos altos da obra, Mynydd Baddon, onde o Artur retratado nos dois primeiros volumes da trilogia volta a aparecer aos seus velhos amigos e companheiros. E velhos não somente no sentido figurado, pois todos os personagens já envelheceram bastante para os padrões da época e sabem que estão caminhando rumo a última guerra de suas vidas.
Finalmente entendemos alguns fatos da vida de nosso querido narrador Derfel Cadarn e passamos a admirar cada vez mais sua história com sua amada Ceinwyn, personagem que simplesmente, não tem como não gostar.

O livro que finalizei com os olhos marejados

A redenção de Guinevere vem com esse volume da trilogia, onde passamos a admirá-la (pelo menos na versão concebida pelo autor). Em contrapartida, temos também personagem que a princípio era interessante e que provavelmente o leitor gostava, e passa a deixar suas crenças dominá-la e a leva a um caminho que nos faz entender que fanatismo nunca será algo positivo.
Ainda sobre personagens existentes na lenda, confesso que não apreciei ao todo o modo como Morgana foi retratada nessa história e nem de seu destino, porém sua força e poder continuam evidentes e nesse terceiro volume vemos uma prova disso, mostrando que a sacerdotisa de Merlin mesmo quando não quer é capaz de dominar a magia como o próprio druida. Merlin continua roubando a cena e semelhante ao segundo livro da saga, a magia continua tendo destaque.
A sequencia que encerra o livro na batalha de Camlann possui uma narração impecável, e mais uma vez entende-se que o autor é mestre em guerras. A descrição dos detalhes da batalha, do que Derfel vê, sente, o que cada personagem principal faz, suas expressões, falas, os cheiros, as sensações, tudo é impecável e faz o leitor se sentir em meio aos caos. O desfecho que segue a batalha não poderia ter sido melhor. Um final emocionante e digno para uma trilogia impecável. Tão lindo que meus olhos lacrimejaram ao me despedir de Artur, Merlin, Nimue, Guinevere, Morgana, Derfel, Ceinwyn, Sagramor e tantos outros. Definitivamente uma das melhores versões para a lenda de Artur!

O destino é inexorável (Merlin)

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Músicas do Heavy Metal inspiradas em livros

Muitos músicos compõem sob influência de certas inspirações e as vezes essa inspiração vem de alguma história lida em obras literárias. Nesse Dia Mundial do Rock vamos conhecer algumas obras provenientes dessas inspirações no mundo do Metal:

Sign of the Cross - Iron Maiden
A banda de Heavy Metal inglesa Iron Maiden possui inúmeras canções inspiradas em obras literárias, sendo uma delas Sign of the Cross, gravada originalmente no álbum The X Factor de 1995, inspirada no livro O Nome da Rosa de Umberto Eco, que se passa em um mosteiro do século XIV e envolve assassinatos e a ocultação de conhecimento.




Brave New World - Iron Maiden
A outra música do Iron Maiden escolhida para esta lista é Brave New World, lançada em 2000 no álbum homônimo, inspirada no livro também homônimo, Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, distopia que se passa em um futuro distante onde as pessoas são controladas por um regime totalitário.



Lord of the Rings - Blind Guardian
Todo fã da banda alemã de power metal Blind Guardian sabe do quanto a obra de Tolkien inspirou algumas composições da banda. Lord of the Rings, gravada no álbum Tales from the Twilight World de 1990 fala sobre a obra homônima de Tolkien, O Senhor dos Anéis, contando sobre os anéis de poder.




Nightfall in Middle-Earth - Blind Guardian
Na verdade, o Nightfall in Middle Earth (1998) é um álbum, onde mais uma vez o Blind Guardian visita a mitologia tolkieniana. O álbum conceitual apresenta 22 faixas inspiradas no livro O Silmarillion, onde Tolkien narra toda a formação do universo concebido por ele magistralmente. Se preciso fosse destacar apenas uma música desse álbum, escolheria Nightfall, pois fala sobre a destruição das árvores que iluminavam Valinor, Laurelin e Telperion, pela aranha gigante Ungoliant, enviada por Melkor, primeiro Senhor da Escuridão.




The Wizard - Black Sabbath
A Terra Média reina no mundo das bandas que já tiraram inspiração de livros. The Wizard da banda britânica que inventou o Heavy Metal, Black Sabbath, é inspirada no mago Gandalf. O baixista Geezer Butler informou em uma entrevista que na época em que escreveu a letra estava lendo O Senhor dos Anéis.




Take the Black - Hammerfall
Muitas bandas de metal fizeram músicas inspiradas no universo das Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin, porém a escolhida para esta lista é Take the Black da banda sueca Hammerfall, que fala sobre a Patrulha da Noite. A música foi gravada no álbum "Chapter V: Unbent, Unbowed, Unbroken" de 2005, que curiosamente traz em seu nome o lema da Casa Martell (Insubmissos, Não Curvados, Não Quebrados). O mesmo álbum ainda conta com a faixa "Fury of the Wild", que parece falar sobre os Selvagens que vivem para lá da Muralha.



For Whom The Bell Tolls - Metallica
A música For Whom The Bell Tolls, gravada no ábum Ride the Lightning em 1984, é inspirada no romance homônimo "Por quem os Sinos Dobram", de Ernest Hemingway, que é ambientado durante a Guerra Civil Espanhola na década de 30.



sábado, 11 de julho de 2020

O Lobo de Gaia (Contos de Árian) - Daniel R. Salgado

O Lobo de Gaia é o segundo livro dos Contos de Árian, de Daniel R. Salgado, que inicia-se dois anos após os acontecimentos de seu antecessor, "O Caçador de Gigantes" com o guerreiro Kael, que muitos acreditavam estar morto, descobrindo mais sobre o futuro de sua filha Rhianne (cujo nascido deu-se  envolto em uma profecia) através de Deuses celtas, incluindo alguns que ainda não haviam se apresentado pessoalmente ao guerreiro. Kael mais uma vez parte em jornada com seus companheiros e mais uma vez por Rhianne, cuja vida está ameaçada pelo culto ao Caos. Concomitante a esses fatos, em Tanória vemos o desenrolar de um golpe sofrido por Nalissa, agora Rainha deposta, e sua fuga do reino, deixando seu trono para trás com a certeza de que o reconquistará.
Neste volume da saga são apresentados mais seres, deuses e semideuses das mitologias celtas, nórdica, grega e egípcia, todos coexistindo em um universo fantástico criado pelo autor. Conhecemos mais sobre as Amazonas, guerreiras gregas que no primeiro volume foram apresentadas somente através de Neaira, e mais sobre o passado de Kael, incluindo um poderoso semideus a quem o guerreiro serviu em outras épocas.

O Lobo de Gaia, publicado em 2007 pela Editora Novo Século
Nesse livro vemos uma grande evolução na história, com mais trechos envolvendo batalhas com seus detalhes bem narrados e do personagem central, pois Kael está mais maduro, mais determinado, e resignado perante certas coisas que não concebia tempos antes.
Destaca-se uma personagem brevemente introduzida no livro predecessor e desenvolvida em O Lobo de Gaia, Hildrid, uma guerreira formidável possuidora de uma beleza sobre-humana, uma valquíria que possui um papel muito importante na história do livro, assim como outras personagens femininas. Um ponto muito positivo da história são as diversas mulheres fortes e importantes nos dois livros dos Contos de Árian, tendo ainda mais destaque no segundo volume que deixa uma promessa de ainda conhecermos outras personagens tão fascinantes quanto as já apresentadas, assim como fatos que foram citados e entendemos que precisam ter seu desenrolar.
Ainda mais dinâmico que o primeiro livro, o leitor finaliza a leitura dO Lobo de Gaia sem fôlego após uma sequência de batalhas épicas e com vontade de conhecer mais sobre o mundo de Árian.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

O Caçador de Gigantes (Contos de Árian) - Daniel R. Salgado

Publicado em 2006, O Caçador de Gigantes é o primeiro livro dos Contos de Árian, saga épica medieval fantástica criada pelo escritor brasileiro Daniel Rodrigues Salgado. No livro conhecemos a história de Kael, guerreiro bárbaro da Gaéria, terra fictícia inserida na porção norte do primeiro continente de Árian, mundo criado pelo autor. Kael é um guerreiro formidável em batalha e um ótimo estrategista, sendo um homem bruto porém muito fiel a seus amigos e a seu povo.
Ao sul da Gaéria, Nalissa, princesa de Tanória, maior reino do continente, ao chegar ao reino vizinho e aliado, Vaerin, é informada pelo rei Braeden de que uma fera está trazendo caos a seu reino, atacando pessoas e povoados sem conseguir ser dominada por nenhum homem. Apoiada pelo capitão de sua guarda e grande amigo Lucius, a princesa Nalissa decide ajudar Braeden partindo em busca de um guerreiro bárbaro gaério, cujo as lendas contam, trata-se de um matador de gigantes. Nalissa e Lucius após passarem por grandes dificuldades na Gaéria conhecem Kael, de quem as lendas falam junto de alguns de seus companheiros e amigos, entre eles, o lobo Connal, de quem Kael é inseparável, e enquanto a princesa tenta convencer o guerreiro a ajudá-los no reino vizinho, conhece muito de seu povo e sua cultura, aprendendo a os admirar e respeitar. 
Logo o leitor conhece algumas histórias acerca da vida de Kael importantes para o desenrolar dos fatos e os personagens principais são envolvidos em uma trama maior, envolvendo uma profecia, vingança, traições, batalhas sangrentas e uma dose de misticismo, e vemos o que um guerreiro é capaz de fazer quando a vida de sua filha ainda na barriga de sua mãe é ameaçada.

1ª edição do livro, pela editora Novo Século

O mundo que o autor criou para ambientar suas histórias é inspirado em mitologias antigas e existentes, sendo que em cada local específico do continente há uma dessas culturas dominantes, onde as pessoas cultuam seus deuses e usam vestimentas típicas fazendo referência às mesmas, além da aparência física dos habitantes que também muda conforme a localidade. Nos reinos considerados civilizados que conhecemos ou foram citados, Tanória, Vaerin e Mératon, predomina a cultura grega, onde Zeus é cultuado como o maior e mais importante deus. Na Gaéria, terra de Kael, os habitantes assemelham-se aos celtas, chamando a Mãe Terra de Danu, respeitando muito os animais e a natureza, tendo druidas e acreditando em outros deuses dessa mitologia, como Morrighan. Conhecemos um habitante de terras localizadas mais ao oriente, um cigano que conta sobre a cultura de um local que muito assemelha-se ao Egito mas parece ser de origem árabe e ainda são introduzidos alguns viking de Midgard, terra vizinha da Gaéria onde visivelmente domina a cultura nórdica. Nas primeiras páginas do livro é encontrado o mapa do continente que muito auxilia o leitor a situar-se, artifício comum e muito necessário em épicos com mundos fictícios.
A narrativa é muito bem escrita, porém a leitura é descomplicada, prendendo a atenção do leitor do início ao fim. Muito indicada para quem aprecia uma boa história de ficção medieval / fantasia de qualidade.

domingo, 5 de julho de 2020

Orgulho e Preconceito - Jane Austen

Publicado em 1813, Orgulho e Preconceito é o segundo romance de Jane Austen, uma das maiores escritoras da literatura inglesa, tendo sua importância equiparada à de Shakespere. Sendo a obra mais conhecida da autora, Orgulho e Preconceito retrata a sociedade provinciana da Inglaterra entre os séculos XVIII e XIX, mais especificamente como eram conduzidas as relações entre pessoas e a importância que conquistar um bom casamento tinha para as mulheres da época.
Para Elizabeth Bennet, personagem principal, amante de livros e sem dúvidas, elemento mais íntegro da história, encontrar um pretendente não era prioridade, ao contrário do que pensava sua mãe e algumas de suas irmãs (com Elizabeth, elas eram em 5 irmãs, sem nenhum irmão homem). Logo no início da trama a família conhece um rico cavalheiro recém chegado à região, Senhor Bingley, que logo se interessa por Jane, irmã mais velha e pessoa mais próxima de Elizabeth. Sendo muito amável, o jovem logo desperta a simpatia de todos, ao contrário de seu amigo que está hospedado em sua casa, Senhor Darcy, homem ainda mais rico do que Bingley e também muito orgulhoso e desagradável à primeira impressão. Elizabeth logo antipatiza com Darcy, que a princípio a despreza, porém de tanto o acaso os reunir nos mesmos ambientes, este começa a admirar a moça que é diferente das pessoas que fazem de tudo para agradá-lo. Elizabeth é impertinente e não aceita ser cortês com alguém somente por seu elevado status social, sendo muito bem articulada, responde à altura não importa quem lhe dirija a palavra. 

Livro da Editora Ciranda Cultural, com capa dura, cortes coloridos e fita para marcar páginas

Muitas reviravoltas ocorrem no decorrer da narrativa, não sendo uma história puramente romântica, mas sim um retrato de como as pessoas agiam devido seus interessantes e de suas famílias. O livro tem personagens muito bem construídos, como o próprio Senhor Darcy, em quem é notória a evolução conforme o tempo transcorre, e muitos personagens detestáveis, como Lady Catherine de Bourgh, tia de Darcy, Senhor Collins, primo das meninas Bennet e as irmãs de Bingley. Não pode-se deixar de citar os pais das meninas, a Senhora Bennet cuja única preocupação era ver as filhas casadas e que por diversas vezes quase arruinou seus próprios desejos por conta de seus disparates, e o Senhor Bennet, o oposto de sua esposa, homem tranquilo e que adorava sua filha Elizabeth, sendo um pai muito compreensivo.
A obra é sem dúvidas um clássico com uma história leve e bem escrita, porém o estilo da autora pode ser um obstáculo, visto ser um livro do início do século XIX, fazendo com que as vezes seja cansativo ler por muitas horas, porém ao apegar-se a trama tais obstáculos não se fazem tão importantes. Recomenda-se para todos que apreciam obras clássicas e bem escritas com personagens distintos e como já mencionado, bem construídos.

sábado, 20 de junho de 2020

Pátria - Fernando Aramburu

Escrito de forma não linear, Pátria narra a história de duas famílias muito amigas residentes em uma vila no país Basco (comunidade localizada na parte norte da Espanha). Focada nas duas matriarcas, Bittori e Miren, a narrativa cobre três décadas de suas vidas. Em meio a um cenário real, a luta do grupo separatista ETA pelo que, na sua visão é a luta pela liberdade do povo Basco (que em grande parte os apoia), e sob o ponto de vista contrário, terrorismo, as duas famílias passam por um rompimento repentino de sua amizade, quando Txato, o marido de Bittori passa a ser ameaçado pelo ETA e toda a comunidade da vila se coloca contra ele e sua família, incluindo a família de seu melhor amigo Joxian, marido de Miren, cujo um dos filhos, Joxe Mari entra para a luta armada empreendendo junto de seus companheiros ataques a empresários que não lhes fornecem subsídio. Após o assassinato de Txato, seus filhos Xabier e Nerea levam a mãe Bittori embora da vila, mas a mesma não consegue deixar o passado para trás e volta após anos, quando o ETA anuncia o final da sua luta, em busca de respostas para ficar em paz.
O autor nascido em San Sebastian, localizada na mesma região onde passa sua história, narra acontecimentos ocorridos em vários momentos da vida de todos os integrantes das duas famílias. Eles possuem cada qual suas aventuras e angústias, como pessoas normais que são, apesar dos respectivos dramas em suas famílias causadas pela luta/terrorismo. Uma família cujo pai perdeu a vida para o terrorismo e uma família cujo um dos filhos perdeu a liberdade por lutar por seus ideais.
Talvez a narrativa paralela mais interessante seja a de Aratxa, filha de Miren e Joxian, cujo destino a deixou presa em uma cadeira de rodas dependendo dos pais e mesmo assim, consegue feitos incríveis que refletem no final do livro. O irmão mais novo de Joxe Mari e Arantxa, Gorka também é um personagem curioso, com seus mistérios sendo revelados ao longo da obra e conquistando a simpatia do leitor.

"E como as pessoas resistem a devolver ao planeta os átomos emprestados. Na verdade, estranho e excepcional é estar vivo."

 A obra apresenta uma escrita fluída que só precisa ser entendida e aceita por quem o aprecia, pois além de não seguir uma linearidade, Fernando Aramburu alterna entre a narrativa de terceira para primeira pessoa abruptamente, as vezes dentro de um mesmo parágrafo, o que causa estranheza no início da leitura, bem como trechos onde são inseridas falas de dois personagens no mesmo parágrafo, como se um perguntasse e já ouvisse a resposta de seu interlocutor. Um ponto interessante também na escrita, é o uso de algumas expressões bascas, tornando o uso do glossário inserido ao final da edição necessário diversas vezes.
Um livro tocante, com algumas passagens densas capazes de causar melancolia, contando os dois lados de uma história contemporânea ambientada em meio a acontecimentos reais de forma inteligente, não aprofundando muito nos fatos históricos mas sim nos sentimentos dos personagens que bem podem representar pessoas reais.


quinta-feira, 11 de junho de 2020

As Crônicas de Artur: O Inimigo de Deus - Bernard Cornwell

O segundo livro da trilogia "As Crônicas de Artur", "O Inimigo de Deus" continua com a narrativa de uma das lendas mais conhecidas sob a ótica de um dos maiores escritores da atualidade. Bernard Cornwell utiliza de fatos que pouco se tem certeza para tecer mais essa impecável ficção histórica, usando licença poética e aceitando na narrativa personagens conhecidos de lendas que também não se tem certeza se viveram na mesma época de Artur devido muitos relatos destoantes disponíveis nos dias de hoje.
Neste volume, a guerra contra os saxões que tentam invadir a Britânia fica em evidência, porém o destino inexorável mostra que alguns aliados podem tornar-se inimigos. Em uma trama cheia de personagens ambiciosos e vingativos, também é apresentada uma busca pelos Treze Tesouros da Britânia empreendida pelo mais poderoso entre os druidas, Merlin. Uma das partes mais interessantes do livro é a busca pelo mais importante dentre estes tesouros, o Caldeirão de Clyddno Eiddyn. Merlin acredita que o poder do caldeirão é capaz de resolver todos os problemas da Britânia, os saxões e o cristianismo, que cresce a cada dia mais com seus seguidores fanáticos que acreditam que sua missão é expulsar os pagãos (que já estavam ali antes deles) da Britânia para a chegada de seu salvador.

O livro e referências ao Caldeirão e paganismo :)

 Neste volume da saga, a magia fica mais em evidência quando em comparação ao primeiro, com o fato da Britânia estar dividida entre paganismo e cristianismo e Merlin tendo mais destaque, sendo este um dos melhores personagens da obra, garantindo momentos cômicos e reviravoltas.
Um livro que passa longe de ser arrastado, como ocorre as vezes com o segundo de uma trilogia, pelo contrário, é muito dinâmico e recheado de acontecimentos que tiram o fôlego do leitor. Como seu antecessor, um ótimo livro!

segunda-feira, 8 de junho de 2020

O Labirinto do Fauno - Cornelia Funke e Guillermo del Toro

Um livro que veio depois do filme. Normalmente, o caminho é inverso, mas Cornelia Funke assumiu uma tarefa desafiadora ao transformar uma obra prima cinematográfica de Guillermo del Toro em livro (a pedido do próprio diretor / roteirista). A escritora alemã não só escreveu uma obra tão boa quanto ao filme como superou todas as expectativas neste livro lançado em 2019, 13 anos após a estreia do filme.
A história dO Labirinto do Fauno se passa na Espanha no ano de 1944 durante a ditadura de Franco em meio a guerra civil. Ofélia é uma menina de 12 anos que vai com sua mãe morar na casa de seu padrasto, Capitão Vidal (um homem que apoia o fascismo vivenciado pelos espanhóis na época), de quem a mãe de Ofélia está grávida. Ofélia ama livros e contos de fadas, e logo que chega no local de sua nova morada se depara com criaturas fantásticas que irão conduzi-la à sua própria história mágica. Próximo à casa existe um labirinto, onde Ofélia entra guiada por uma fada. No labirinto ela encontra uma criatura muito alta e com chifres, que apresenta-se como Pã e explica a ela que é um fauno. Este fauno conta à menina que seu nome verdadeiro é Moanna e que ela é a princesa há muito tempo perdida do Subterrâneo, porém explica que ela precisa provar que é verdadeiramente Moanna através de 3 tarefas, no que Ofélia consente e inicia suas aventuras concomitantemente as dificuldades encontradas na casa de Vidal, onde sua mãe está muito doente devido à gravidez.

A Intrínseca fez um belo trabalho: Linda capa dura, fita preta para marcar páginas, ilustrações internas, diagramação digna de conto de fadas e cortes coloridos. Uma edição que desperta amor à primeira vista <3

Dentre as personagens marcantes da trama, destaca-se Mercedes, uma mulher que trabalha na casa do detestável Vidal e acolhe Ofélia desde sua chegada. Mercedes é muito importante para um grupo de rebeldes que fazem oposição à ditadura de Franco e diretamente à Vidal, sendo peça chave para eventos valiosos durante a narrativa.
Cornelia Funke foi além do universo conhecido do filme, inserindo 10 contos de sua autoria distribuídos pelo livro que explicam detalhes até então desconhecidos, como a criação do labirinto, a vida do Rei e Rainha do Subterrâneo e alguns de seus fiéis súditos, origens do Homem Pálido, entre outros. O livro apresenta muitos momentos clássicos de aventuras de contos de fadas, sendo genuinamente uma história de fantasia, mas também é uma obra densa que assim como o filme pode deixar o leitor melancólico, refletindo sobre seu desfecho por um bom tempo após concluída a leitura. O Labirinto do Fauno é recomendado para todos os fãs de literatura fantástica, que tendo visto o filme ou não, se perderão nas páginas do livro como se fosse uma história inédita.

sábado, 30 de maio de 2020

Frankenstein - Mary Shelley

Escrito há mais de 200 anos, Frankenstein (ou o Prometeu moderno) é uma das obras mais influentes do mundo, tendo ganhado diversas adaptações cinematográficas, sendo referenciado em séries e até HQ's. Considerado o precursor da ficção científica literária, o livro nasceu de um episódio onde a autora Mary Shelley, na ocasião ainda Mary Wollstonecraft Godwin ficou alguns dia em uma mansão na Genebra, Suiça, com seu companheiro, o renomado poeta Percy Shelley, e um grupo de amigos, Lord Byron, também ilustre poeta na época, o médico John Polidori e a irmã de criação de Mary, Claire Clairmont. O tédio os fez terem ideias de escreverem contos de terror, e a partir de um sonho assustador, Mary iniciou a escrita que concluiu com apenas 19 anos do que se tornaria um dos maiores clássicos do gênero.
O livro narra a história de Victor Frankenstein, cientista que dedica sua vida a estudos sobre como criar vida a partir de tecidos mortos. Após alguns anos de tentativas, com sua crescente obsessão ele consegue dar vida a uma criatura a partir da eletricidade, mas se arrepende logo em seguida ao perceber que criou um ser monstruoso, e o considerando uma aberração, o abandona. A criatura por sua vez tem consciência como um ser humano, possuindo inteligência e sentimentos, e só deseja encontrar amor e compaixão. Devido sua aparência, ela não obtém sucesso, sendo desprezada por todos que encontra em seu caminho, o que a leva a tornar-se violenta e desejar vingança daquele que a criou.


Edição Deluxe da Darkside que ainda conta com uma breve história da autora e mais 4 contos da mesma, todos sobre imortalidade. O livro também apresente ilustrações lindíssimas e fita vermelha para marcar páginas, combinando com a temática da capa e ilustrações internas.

 Apesar de ser um clássico que conta com uma história brilhante que no geral flui bem, a história carece de detalhes sobre a criação do ser, que foi reanimado de forma vaga, e algumas poucas passagens do livro podem ser consideradas monótonas pelo leitor. O fato de a autora não se ater a detalhes da criação explica-se provavelmente por este não ser o foco da obra dramática, e sim nos fazer refletir sobre quem é o verdadeiro monstro, Victor ou a Criatura? É impossível não se solidarizar com a pobre criatura que foi jogada ao mundo por seu criador e apenas sofreu com a falta de empatia da humanidade, que mesmo em tempos atuais, ainda julga meramente a aparência de seus semelhantes.


quarta-feira, 27 de maio de 2020

O Anuário da Grande Mãe - Mirella Faur

Nascida na Transilvânia, Mirella Faur possui propriedade em falar sobre a Grande Mãe, tendo contribuído fortemente no Brasil, iniciando o movimento "Ressurgimento do Sagrado Feminino" em Brasília, e dirigindo por mais de 20 anos o Círculo Sagrado da Chácara Remanso, que reunia centenas de mulheres em rituais inspirados no culto a Deusa da antiguidade. Tomou para si a tarefa de auxiliar mulheres a despertarem sua sacralidade milenar e a se libertarem do patriarcado incrustado na sociedade.
O Anuário da Grande Mãe é o livro que toda a bruxa precisa, sendo resultado de um estudo realizado pela autora sobre celebrações, símbolos e atributos das Deusas cultuadas ao longo do tempo em diversas culturas mundiais vivenciadas através de grupos de mulheres em vários países. No livro, que pode e deve ser utilizado como auxílio para práticas espirituais, encontram-se as celebrações panculturais diárias, esclarecimentos sobre a Roda do Ano e os Sabbats, influência da lua sobre a humanidade, plenilúnios, rituais, menstruação e a cura emocional da mulher, etc. Importante citar o capítulo que traz a Lenda das Treze Matriarcas, nos fazendo refletir sobre nossos valores, cura pessoal e o equilíbrio da Terra. As mulheres devem promover entre si, ao contrário do que a sociedade espera, união e amor próprio para encontrarem a sua essência.

A obra em meu altar.
A única ressalva que faria é que Mirella, ao explanar sobre cada Sabbat, segue a Roda Norte, ou seja, as celebrações estão datadas conforme comemora-se nos países do hemisfério norte (o que é devidamente explicado pela autora), e normalmente os moradores de países do hemisfério sul seguem de forma diferente (Roda Sul) e necessita-se fazer as próprias correspondências mentais. Ademais, é um livro ótimo para consultar frequentemente alinhado às práticas de cada um, inclusive diariamente para situar qual comemoração ocorre no dia em diversas culturas, sendo o mais completo estudo publicado em língua portuguesa sobre os arquétipos da Deusa.

Link para compra deste livro na Amazon: https://amzn.to/2zCQXkF

segunda-feira, 18 de maio de 2020

H.P. Lovecraft - Medo Clássico vol. 1

Howard Phillips Lovecraft, escritor estadunidense nascido em 1890, revolucionou o terror literário empregando-lhe elementos fantásticos presentes em gêneros como ficção científica e fantasia. Não tendo um grande número de leitores em vida, atingiu o sucesso postumamente, e hoje é reconhecido ao lado de Edgar Allan Poe, em quem inspirava-se, como um dos nomes mais influentes do gênero.
Nesta obra em particular, organizada pela editora Darkside para sua coleção "Medo Clássico", são reunidos alguns dos contos mais relevantes do autor, como sua história mais famosa, "O Chamado de Cthulhu", além de dois contos mais compridos e considerados prolixos por alguns leitores, "A Sombra Vinda do Tempo" e "Nas Montanhas da Loucura" (ambos com temática muito parecida) que compartilham a edição com contos mais dinâmicos, como "Dagon", "O Cão de Caça", "O Depoimento de Randolph Carter" e a curtíssima "História do Necronomicon".
Entre os contos mais curtos da obra, destaca-se "A Cidade Sem Nome". Suas 20 páginas conseguem prender a atenção do leitor e sua reta final é de tirar o fôlego (algo comum em outros contos do autor onde o leitor se imagina vivendo os terrores dos personagens).
Outro conto presente na edição que merece ser comentado, é "Herbert West: Reanimator", que conta com a história de um médico obcecado por reviver seres sem vida, descrevendo as dificuldades para tal feito em seres humanos e a busca do médico e seu assistente (que narra a história) por um cadáver fresco para os estudos, levando Dr West a cometer atos desprezíveis. É sabido que Lovecraft odiava este conto, pois o escreveu somente visando a compensação financeira que lhe trouxe, pois como já citado, ele não obteve sucesso em vida e necessitava se sustentar. Mesmo o autor não gostando de sua criação, esta caiu nas graças dos leitores, sendo hoje em dia um de seus contos mais populares, tendo inclusive ganhado adaptações cinematográficas.

Miskatonic Edition - Inspirada na Universidade criada por Lovecraft em seus contos



Alguns contos clássicos ficaram de fora desta primeira edição, intitulada como "volume 1", indicando que muito provavelmente teremos o volume 2 de contos do filho de Providence lançado pela Darkside.

Lombada da edição que apresenta cortes pintados em verde, fita da mesma cor para marcar páginas, ilustrações e notas de rodapé explicativas.

Esta edição da Darkside agrada não só aos grandes fãs de Lovecraft, como aqueles apreciadores do terror, de grandes clássicos e de belas edições para as coleções. Um item que vale a pena ser adquirido e que após lido deixa o leitor ansioso para ler outros contos do autor.

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segunda-feira, 11 de maio de 2020

Como começar a ler Tolkien - O Hobbit

Amado por fãs de fantasia épica, John Ronald Reuel Tolkien deixou um valoroso legado através de suas obras. A trilogia "O Senhor dos Anéis" é a mais lembrada pelo público em geral nas últimas décadas, fato decorrente da adaptação cinematográfica da obra (algo que em vida Tolkien não teria permitido), mas as histórias escritas no universo completo que ele criou são numerosas. O professor universitário concebeu um mundo com uma mitologia e línguas próprias, além de raças cada uma com sua cultura e comportamentos muito específico, e ainda há as outras obras que não tratam da Terra Média mas que também enquadram-se no gênero que o autor é sem dúvida, a maior referência, afinal, ele foi o pioneiro da fantasia na literatura.
Muitas pessoas quando começam a ler Tolkien pelo livro "A Sociedade do Anel" por exemplo, se deparam com uma certa complexidade e acham a descrição dos cenários exagerada. Pode não ser um problema para quem está acostumado a leituras densas e deseja muito conhecer a Terra Média, mas ocorre de alguns leitores não se encantarem pelo universo de Tolkien como poderiam. Assim, sugere-se para quem ainda não adentrou esse maravilhoso acervo da fantasia que comece pela primeira narrativa publicada pelo autor, "O Hobbit".

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Uma edição de "O Hobbit" que conta com diversas ilustrações em seu interior.

Como outras de suas obras, "o Hobbit" foi escrito por J.R.R. Tolkien para seus filhos, tendo sido criado portanto, para ser um livro para crianças. Mas não se engane, adultos apreciam a narrativa tanto ou mais que os pequenos.
O livro conta as aventuras de Bilbo Bolseiro, um hobbit do Condado que vive de forma tranquila e confortável em sua toca, até que o mago Gandalf o arrasta para uma jornada com 13 anões que estão em busca de seu tesouro roubado pelo dragão Smaug quando o avô de Thorin Escudo de Carvalho, o anão líder da comitiva, era rei.

Em uma toca no chão vivia um hobbit.
Bilbo parte com eles a contragosto e vive a maior aventura de sua vida. Durante o percurso eles se deparam com trolls, orcs, aranhas gigantes, elfos amigáveis e outros não tão amigáveis assim e Bilbo tem um encontro muito importante com uma criatura chamada Gollum que carrega um certo anel presente em outra história da Terra Média. Importante citar que o grupo aventureiro também passa por Valfenda, onde encontram o mestre elfo Elrond, também presente em outras histórias.

Dragões almejam ouro com desejos sombrios.
"O Hobbit" é um clássico escrito de forma descomplicada, tornando fácil sua compreensão e é uma ótima forma de entender o mundo fantástico de seu escritor, abrindo portas para toda uma obra que fez de Tolkien imortal. Após concluída a leitura é quase impossível não querer adentrar a Terra Média em outras histórias, o que será muito mais natural com a base criada na apreciação da saga de Bilbo.

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sábado, 9 de maio de 2020

Olhos Estranhos

As vezes olho no espelho e não reconheço meu rosto.
Vejo uma boca com dentes que não sei a quem pertence
Ela fala comigo com uma voz que não me recordo
Enquanto se move um maxilar com formas que eu nunca tinha reparado
Respiro fundo e noto aquele nariz intruso
Os dedos finos retiram os fios de cabelo que caem nos olhos
Eles piscam e reparo que desconheço aqueles cílios
Aqueles olhos estranhos me olham de volta
No fundo da alma
E eu me pergunto:
Onde foi que me perdi de mim mesma?

(Vozes da minha cabeça)


sexta-feira, 8 de maio de 2020

Cem Anos de Solidão - Gabriel García Márquez

"...porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda chance sobre a terra."

Cem anos de solidão foi publicado em 1967 após dois anos sendo trabalhado por Gabriel García Márquez, escritor e jornalista Colombiano que viria a ser laureado com o prêmio Nobel de literatura em 1982. Porém até a publicação da obra, Gabo, como é conhecido em seu país natal, não conseguia alcançar sucesso e vivia modestamente com sua família no México. Sua realidade mudou quando as primeiras tiragens de "Cem anos de solidão" esgotaram-se em questão de dias, içando seu autor a um novo patamar onde o reconhecemos atualmente, tendo sido a referida obra considerada uma das principais da literatura latino-americana traduzida em 36 idiomas.
Principal nome da escola literária realismo mágico, o livro tem como personagens principais os integrantes da família Buendía, narrando os acontecimentos de sete gerações da estirpe residente em um povoado fictício denominado Macondo, cujos fundadores foram, entre outros, o patriarca e a matriarca da família, José Arcádio Buendía, e sua esposa (que também era sua prima) Úrsula Iguarán. José Arcádio Buendía ansiava encontrar o caminho para o mar, mas devido as adversidades, acabaram desistindo pelo caminho, onde fundaram a aldeia para qual todos os Buendía que foram embora retornaram antes de suas mortes. O casal da primeira geração teve três filhos legítimos, José Arcádio, coronel Aureliano Buendía (considerado por muitos o personagem principal da obra) e Amaranta, além de uma filha adotiva, Rebeca. Conforme os personagens ficam adultos e têm filhos, e seus filhos têm outros filhos, o leitor pode facilmente perder-se com os nomes demasiados parecidos dos personagens masculinos, sempre batizados como José Arcádio ou Aureliano (em um ponto da narrativa surgem 17 Aurelianos, filhos bastardos do coronel Aureliano Buendía), fato que serve para mostrar a ciclicidade da história, onde as paixões e tragédias tendem a se repetir, mas as confusões facilmente se dissipam ao consultar a árvore genealógica da família, disponível na edição brasileira de 2014 e provavelmente em outras também.
A solidão presente no título da obra está em cada membro da família, cada qual com suas aflições e desejos, vivendo sempre concentrados em suas atividades sem ter tempo de pensar na solidão dos outros. É possível identificar-se com alguns deles, e durante a leitura sente-se um misto de emoções, como raiva, pena, alegria, as angústias dos personagens e sua solidão, o que pode resultar em reflexões sobre como somos solitários, convivendo com muitas pessoas, mas muito mais com nossos próprios afazeres e pensamentos. O leitor também é levado a vários estados conforme os acontecimentos, podendo ficar vidrado e ansioso com fatos relacionados a alguma das 32 guerras que o coronel Aureliano Buendía travou, maravilhado com os ciganos que visitam Macondo ou extremamente chocado, como na passagem onde os mais de três mil estavam na estação (José Arcádio Segundo não queria que esquecêssemos). Também é possível se divertir com os trechos que deixam claro o realismo fantástico, como a pandemia da insônia e do esquecimento, a personagem que come terra, o personagem cujo as borboletas amarelas o acompanhavam, os fantasmas dos mortos que habitam a casa e a personagem que subiu aos céus, esta última deveras curiosa durante toda a sua passagem. Sendo considerada muito bela, causava uma perturbação nos homens, sem querer causar nada, apenas viver de forma mais simples possível, não entendendo porquê as pessoas complicavam tanto suas vidas. Talvez a personagem mais lúcida da estirpe no final das contas.
Outra personagem feminina que merece destaque é Amaranta, algumas vezes perversa, demora-se a entender seus propósitos, e no final quando se entende, ela revela-se uma das que carregam a solidão clássica da família de forma mais pesada. No geral, as personagens mulheres, tanto as da família quanto as ligadas aos Bundía por outros meios são muito fortes e interessantes, muito bem trabalhadas como toda a escrita do autor.

Foto tirada após uma chuva de quatro anos, onze meses e dois dias

Uma curiosidade é que Gabo inseriu um personagem com seu nome na reta final da história. Trata-se do rapaz chamado Gabriel, bisneto do coronel Gerineldo Márquez, personagem que fora amigo e lutou ao lado do coronel Aureliano Buendía. Ainda cita a "sigilosa namorada de Gabriel", Mercedes, que batizou com o mesmo nome de sua esposa, Mercedes Barcha. O autor também utiliza os nomes de seus filhos em uma passagem, quando a personagem Úrsula Amaranta diz que deseja ter dois filhos e de jeito nenhum chamá-los  José Arcádio e Aureliano e sim Rodrigo e Gonzalo.
Depois de mais de 50 anos de sua primeira publicação, "Cem anos de solidão" arrebata as almas leitoras pelo mundo, para onde levou a América Latina em suas páginas.